terça-feira, 28 de agosto de 2012

Delicadezas

Escrever é um abismo. O amor também!...
E os abismos são sempre um fascínio.
É lá que nascem as mais belas e raras flores...

Coisas tão pequenas me fazem sorrir como encarar o trânsito e ter tempo pra admirar pardais tomando "banho" de areia, centenas deles. O dia Grayscale até se tornou um pouco colorido trazendo outras lembranças boas.



Dias assim já me trouxeram muitos motivos pra sorrir... sorvete, cinema, nossos corpos nus em um quarto de motel num canto qualquer do nosso mundo...


Caiu alguns chuviscos naquele dia em que você chegou com a blusa abotoada e disse estar no estilo Ted Mosby. Eu sorri.
Talvez deveríamos ter eternizado esse momento deixando tudo como estava. Podíamos apenas ter aproximado nossos lábios em uma despedida como naquele episódio, lembra?
Mas, se a gente não tivesse se beijado não teríamos uma história, eu não teria o que escrever sobre você mesmo achando muitas vezes que não mereces essa minha sensibilidade exasperada. Não teria lembranças e saudades boas, mesmo que tenham sido tão curtas. Eu não teria conhecido sua essência. Sua alma.
Se eu nunca tivesse aceitado aquele sorvete de flocos hoje eu não sentiria falta do seu edredom, nem dos nós que se formavam embaixo dele fazendo a gente parecer um só ser. Não sentiria falta de acordar primeiro e te olhar dormir num sono silencioso. Esticar minha mão te roçando o rosto. Não sentiria falta das refeições em família, das brincadeiras, das gargalhas altas do homem da casa. Das trolhações do anjo mais novo. Da atenção de mãe como se eu fosse filha. Não sentiria falta de ir pro banho e voltar e ver você dedilhando uma música. E eu prefiro ter tido a oportunidade pra sentir essa ausência hoje do que ter vivido sem elas.

É tanta falta que a falta faz ... que não cabe, que me esqueço até do que mais tenho falta.

Já partiram meu coração muitas vezes. Foi diferente. Houve mágoa demais, coisas impróprias que foram ditas e palavras que feriram mais do que navalha.
Mais você me fez partir somente com o amor que seu coração rejeitou. Foi um risco e eu soube que teria que corre-lô. Me doei, mergulhei mesmo tendo que nadar contra a correnteza. Não houve mágoas como antes. Houve palavras sinceras, houve compreensão, houve amizade e respeito. Houve caráter, houve um homem amadurecendo.

Dói porque dá saudade. Dói porque o coração se sente frágil. Dói porque sinto raiva dessa esperança que ainda carrego em mim ,ou me carrega já nem sei mais, por saber que sente minha falta. Eu sinto que você sente. Como sempre previ quando as incertezas te cercavam.

Anseio ser feliz só (de novo) como aprendi a viver antes.
Quero ser capaz de guardar tudo o que já citei sobre você (porque é o que sinto) em um lugar reservado em um canto diferente no meu coração. Longe dos que estão lá por terem sido amados um dia e que não conseguiram fazer o diferencial que você fez.
Eu saberei quando as palavras sobre você começarem a deixar de existir.

É muito raro algum texto sair realmente como eu gostaria, eu penso, relembro, invento e é sempre em um momento distante daqui. E ao passar tudo pra cá as palavras se perdem ...  mais são todas sempre com a sinceridade da alma.

Etiene Ferreira.

Um comentário:

  1. ' e é tanta falta que a falta faz',
    adorei essa expressão. Escrever é uma exercício divino de reviver, ou criar, é a dor e o prazer de estar lá, é uma conexão refinada que se dá pelos fios do tal coração.

    Tá lindo o texto.

    Beijo

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